CLÍNICA
AMPLIADA
A proposta de clínica ampliada é ser um instrumento para
que os trabalhadores e gestores da saúde possam enxergar e atuar na clínica
para além dos pedaços fragmentados, sem deixar de reconhecer e utilizar o
potencial desses saberes. exceto as situações de atenção à emergência e os
momentos de procedimentos em que os sujeitos estão sedados, é cada vez mais
vital, para qualificar os serviços, dialogar com os Sujeitos.
A humanização da atenção exige um diálogo qualificado não
somente dentro das equipes, mas também entre equipes de serviços diferentes,
principalmente na atenção às doenças crônicas.
Podemos dizer então que a clínica ampliada é:
• um compromisso radical com o sujeito doente, visto de
modo singular;
• assumir a RESPONSABILIDADE sobre os usuários dos
serviços de saúde;
• buscar ajuda em outros setores, ao que se dá nome de
INTERSETORIALIDADE;
• RECONHECER OS LIMITES DOS CONHECIMENTOS dos profissionais
de saúde e das TECNOLOGIAS por eles empregadas e buscar outros conhecimentos em
diferentes setores.
• assumir um compromisso
ÉTICO profundo.
Outro aspecto fundamental da clínica ampliada, além da
busca de autonomia para os usuários, é a capacidade de equilibrar o combate à
doença com a PRODUÇÃO DE VIDA.
As pessoas podem inventar saídas diante de uma situação
imposta por certos limites.
Portanto, a Clínica Ampliada propõe que o profissional de
saúde desenvolva a capacidade de ajudar as pessoas, não só a combater as
doenças, mas a transformar-se, de forma que a doença, mesmo sendo um limite,
não a impeça de viver outras coisas na sua vida.
Nas doenças crônicas ou muito graves isto é mais
importante, porque o resultado sempre depende da participação da pessoa doente,
e essa participação não pode ser entendida como uma dedicação exclusiva à doença,
mas, sim, uma capacidade de “inventar-se” apesar da doença.
É muito comum nos serviços ambulatoriais que o descuido
com a produção de vida e o foco excessivo na doença acabe levando usuários a tornarem-se
conhecidos como “POLIQUEIXOSOS” (com muitas queixas), pois a doença (ou o risco)
torna-se o centro de suas vidas.
Algumas sugestões práticas:
A ESCUTA – Escutar significa, num primeiro momento,
acolher toda queixa ou relato do usuário mesmo quando possa parecer não
interessar diretamente para o diagnóstico e tratamento. Mais do que isto, é preciso
ajudá-lo a reconstruir (e respeitar) os motivos que ocasionaram o seu
adoecimento e as correlações que o usuário estabelece entre o que sente e a
vida – as relações com seus convivas e desafetos.
VÍNCULO E AFETOS – Tanto profissionais quanto usuários,
individualmente ou coletivamente, transferem afetos. Um usuário pode associar
um profissional com um parente e vice-versa.
EQUIPE DE REFERÊNCIA
(INTERDISCIPLINAR) E APOIO MATRICIAL
A proposta de Equipe Interdisciplinar (de Referência) e
Apoio Matricial objetiva facilitar a humanização da gestão e da atenção ao
mesmo tempo.
A
equipe de referência contribui para tentar resolver ou minimizar a falta de definição
de responsabilidades, de vínculo terapêutico e de integralidade na atenção à
saúde, oferecendo um tratamento digno, respeitoso, com qualidade, acolhimento e
vínculo.
As
equipes de referência propõem um novo sistema de referência entre profissionais
e usuários, cujo funcionamento pode ser descrito da seguinte forma: cada
unidade de saúde se organiza por meio da composição de equipes, formadas
segundo características e objetivos da própria unidade, e de acordo com a
realidade local e disponibilidade de recursos. Essas equipes obedecem a uma composição
multiprofissional de caráter transdisciplinar, isto é, reúnem profissionais de
diferentes áreas, variando em função da finalidade do serviço/unidade.
Cada
equipe de referência torna-se responsável pela atenção integral do doente,
cuidando de todos os aspectos de sua saúde, elaborando projetos terapêuticos e
buscando outros recursos terapêuticos, quando necessário.
A diferença
profissional e pessoal de cada membro da equipe possibilita vínculos e olhares
diferentes sobre o sujeito doente. Estas diferenças permitem enxergar caminhos
para o projeto terapêutico.
Nas
equipes de referência fica evidenciada a importância de cada trabalhador e a interdependência
entre os diferentes profissionais, o que possibilita uma valorização
profissional atrelada a resultados.
O apoio
matricial é um arranjo na organização dos serviços que complementa as equipes
de referência. Já que a equipe de referência é A responsável pelos SEUS pacientes,
ela geralmente não os encaminha, ela pede apoio.
Os
serviços de referência/especialidades que dão apoio matricial passam a ter dois
“usuários” sob sua responsabilidade: “os usuários do serviço” para o qual ele é
referência e “o próprio serviço”.
As
equipes de referências e o apoio matricial constituem-se, assim, como ferramentas
indispensáveis para a humanização da atenção e da gestão em saúde.
É da responsabilidade da equipe de referência entender as
propostas, as implicações e as interações que o diagnóstico e a proposta do apoiador
vão produzir.
PROJETO
TERAPÊUTICO SINGULAR – PTS
O PTS é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas
articuladas, para um sujeito individual ou coletivo, resultado da discussão
coletiva de uma equipe interdisciplinar, com apoio matricial se necessário. Portanto,
é uma reunião de toda a equipe em que todas as opiniões são importantes para
ajudar a entender o Sujeito com alguma demanda de cuidado em saúde e,
conseqüentemente, para definição de propostas de ações.
O PTS contém quatro momentos:
1) O diagnóstico: que deverá conter uma avaliação orgânica,
psicológica e social, que possibilite uma conclusão a respeito dos riscos e da
vulnerabilidade do usuário. Deve tentar captar como o Sujeito singular se
produz diante de forças como as doenças, os desejos e os interesses, assim como
também o trabalho, a cultura, a família e a rede social. Ou seja, tentar
entender o que o Sujeito faz de tudo que fizeram dele.
2) Definição de metas: uma vez que a equipe fez os
diagnósticos, ela faz propostas de curto, médio e longo prazo, que serão
negociadas com o Sujeito doente pelo membro da equipe que tiver um vínculo
melhor.
3) Divisão de responsabilidades: é importante definir as
tarefas de cada um com clareza.
4) Reavaliação: momento em que se discutirá a evolução e
se farão as devidas correções de rumo.
É realmente muito simples,
mas alguns aspectos precisam ser observados:
a) a escolha dos casos para reuniões de PTS: a
proposta é de que sejam escolhidos usuários ou famílias em situações mais
graves ou difíceis, na opinião de alguns membros da equipe (qualquer membro da
equipe).
b) as reuniões para discussão de PTS: Cada membro da
equipe, a partir dos vínculos que construiu, trará para a reunião aspectos
diferentes e poderá também receber tarefas diferentes, de acordo com a
intensidade e a qualidade desse vínculo.
c) o tempo de um PTS: o tempo mais dilatado de formulação
e acompanhamento do PTS depende da característica de cada serviço.
Serviços de saúde na Atenção Básica e Centros de
Especialidades com usuários crônicos têm um seguimento longo (longitudinalidade)
e também uma necessidade maior da Clínica Ampliada. Serviços com tempo de
permanência e vínculo menores farão PTSs com tempos mais curtos.
As informações postadas acima foram retiradas das seguintes cartilhas:
http://www.ufjf.br/hu/files/2009/10/projetos_terapeuticos.pdf